quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A importância dos Sub-Doshas no Diagnóstico


Numa consulta de ayurveda o terapeuta deve primeiramente descobrir a que biótipo o paciente pertence. De seguida vai usar uma série de técnicas para chegar a um diagnóstico mais preciso. Uma dessas ténias é a leitura do pulso (Nadi Pariksha).

O terapeuta com sua mão direita posiciona os dedos indicador, médio e anular no pulso (esquerdo se for mulher e direito se for homem) do paciente para perceber como se comporta o canal subtil (nadi) por onde circula a força vital. Neste local, a leitura dos doshas e SubDoshas é realizada.

No dedo indicador percebe-se como se comportam os elementos éter e ar (Vata), relacionados organicamente com as funções nervosas, com a mente, emoções, percepção e todos os locais de predominância vata em nosso corpo como o intestino grosso, coração, cólon, ossos, pele etc. No dedo médio percebe-se como se comporta o dosha Pitta (fogo e água) em nosso corpo assim como suas subfunções, manifestadas principalmente pelo metabolismo e localizado no sangue, intestino delgado, fígado, glândulas sebáceas, visão, inteligência, etc. No dedo anular percebe-se o dosha Kapha (água e terra) relacionado com a estrutura do nosso corpo e encontrado principalmente no estômago, pulmão, plasma, linfa, pâncreas, músculos, fluidos corporais etc.

Pulso Vata: relacionado com o movimento rápido de uma serpente, desliza pelo dedo sendo rápido, irregular, de onda fina e amplitude baixa, escorregando por baixo do dedo.

Pulso Pitta: percebido no dedo médio, este pulso é relacionado com o pulo de uma rã: de amplitude grande e duração curta e frequência alta, esta onda é percebida como um soco na ponta do dedo e, devido a sua intensidade pode invadir as regiões Vata e Kapha.

Pulso Kapha: assemelha-se com o movimento de um cisne, de onda lenta, gorda e com grande amplitude, é um pulso mais difícil de ser percebido pois geralmente é mais profundo.


Os SubDoshas de vata Pitta e kapha são a base da pulsologia: a imagem abaixo é um esquema dos SubDoshas e o que pode ser percebido em cada dedo


A técnica da pulsologia
envolve uma sequência de movimentos que o terapeuta realiza, como mudança lenta ou rápida da profundidade dos dedos, por exemplo: o pulso mais superficial é relacionado ao dosha que está em maior proporção no momento, experimente observar isso ao meio-dia, quando estamos com fome e a energia Pitta é predominante, o pulso estará intenso e fácil de ser percebido.

O pulso obedece ainda, os horários dos doshas em nosso corpo e na natureza por isso, o melhor horário para determinar seu Prakritti ou constituição original é pouco antes do nascer do sol, quando ainda estamos deitados e relativamente protegidos de influências externas.


Conclusão

Ao longo deste trabalho falei dos doshas e dos respectivos SubDoshas o que me permitiu perceber a sua importância no diagnóstico e tratamento.
Cada pessoa tem a sua constituição específica e os desequilíbrios podem dar origem a doença. Mas como os doshas não são estanques mas sim humores em constante movimento nem sempre á fácil de perceber onde se encontra o desequilíbrio que dá origem à patologia. Os SubDoshas, uma vez que estão localizados em partes específicas do corpo e a seu desequilíbrio dá origem a sintomas mais específicos, permitem a realização de um diagnóstico muito mais preciso levando consequentemente a um tratamento mais eficaz.
Sendo assim o terapeuta deve começar por perceber qual o dosha a que a pessoa pertence e depois através do diagnóstico do pulso perceber qual o SubDosha que se encontra desregulado. E nesse caso o tratamento será específico para aquele SubDosha independentemente da constituição da pessoa, uma vez que uma pessoa Pitta pode ter um desequilíbrio num SubDosha de kapha, e é esse que deve ser tratado para que o tratamento seja eficaz.
Respondendo à questão colocada inicialmente:
Qual a importância dos SubDoshas no diagnóstico?   
Os SubDoshas permitem ao terapeuta determinar em que ponto exacto do corpo há um desequilíbrio e tratá-lo com terapias especificas para o SubDosha em questão e regulando também o dosha de origem da pessoa obtendo assim uma grande eficácia no seu tratamento.
Se não se realizar a avaliação dos SubDoshas e se tratar apenas o dosha da pessoa os resultados não serão tão expressivos pelas razões já mencionadas atrás.

Os Sub-Doshas de Kapha


As cinco formas de kapha são responsáveis pela manutenção dos tecidos e estruturas, os fluidos e a lubrificação, estabilidade, firmeza, flexibilidade e frescura do corpo.

1.    Avalambaka Kapha

Significa aquilo que dá        suporte. Responsável pela integridade funcional, este SubDosha está presente no sistema cardiovascular e respiratório (no coração e revestimento do pulmão (pleura)). Representado pelas secreções brônquicas e pelo fluido pericardial (a perda destes fluidos é uma experiência extremamente dolorosa), ajuda nas trocas gasosas, protege os pulmões e os alvéolos (permeabilidade) e protege o músculo cardíaco. Dá força às costas, ao peito, ao coração e dá flexibilidade ao corpo. Coragem, compaixão, confiança e amor são qualidades promovidos também por este SubDosha.
Sintomas de desequilíbrio: provoca sensação de peso no peito, ansiedade, apego, letargia, dores lombares, bronquite, asma, enfisema pulmonar e pneumonia.
Óleos essenciais para restaurar o equilíbrio: cardamomo, laranja, cálamo, gengibre, hissopo, énula-campana, eucalipto, salva
Formas de aplicar os óleos: inalações, compressas e óleos de massagem

2.    Kledaka Kapha

É a forma de Kapha que promove o humedecimento ou lubrificação no trato gastro-intestinal, podendo ser representado pelo muco que reveste e protege as paredes do estômago contra a corrosibilidade dos sucos digestivos (protege de uma digestão Pitta). Kleda significa hidratação, liquefacção e promove a hidratação de todas as células e tecidos e providencia energia para a pessoa após o consumo de alimentos. Em equilíbrio, kledaka promove contentamento, satisfação e a necessidade de pequenas quantidades de alimentos.
Sintomas de desequilíbrio: ansiedade, insegurança, sentimento de solidão e necessidade de ingerir grandes quantidades de alimentos.
Digestão lenta, excesso de muco no estômago, sensação de enfartamento.
Óleos essenciais para restaurar o equilíbrio: gengibre, canela, casca de laranja, orégão, tomilho, cravo-da-índia,
Formas de aplicar os óleos: compressas, como tempero de comidas e bebidas.

3.    Tarpaka Kapha

Significa a forma da água que produz contentamento, está presente no cérebro, medula espinhal (fluidos), bainha de mielina e meninges. É responsável pelas células cerebrais, pela protecção dos impulsos nervosos que transitam de um neurónio para o outro, pela capacidade de gravar e reter informações e consequentemente pela memória. Está presente nas moléculas de DNA na forma da nossa memória biológica. Tarpaka kapha ainda pode ser conectado ao sentimento de felicidade, ao contentamento a estabilidade e a busca pela felicidade interior. Lubrifica a cavidade nasal e os seios nasais, fornece clareza sensorial, perceptiva e espiritual e a sensação de unificação com o que é divino.
Sintomas de desequilíbrio: paralisias, doença de Parkinson, tumores cerebrais, perda de memória e desequilíbrios psiquiátricos como esquizofrenia, irritação dos seios nasais, enxaquecas, perda do olfacto, irritabilidade.
Óleos essenciais para restaurar o equilíbrio: manjericão, eucalipto, énula-campana (apenas para inalação), cânfora e alecrim
Formas de aplicar os óleos: inalações, nasya (administração de medicamento em forma de pó ou óleo na cavidade nasal), Shirodhara (consiste na aplicação de um fluxo continuo de óleo morno entre as sobrancelhas (Aina Chakra))

4.    Bodhaka Kapha

Está presente na boca, glândulas salivares, língua, nos fluidos digestivos e na glândula parótida. É responsável pela produção de saliva e pela captação do sabor (paladar), o paladar é especialmente importante para as pessoas do tipo kapha o que pode levar à excessiva ingestão de comida, à inactividade do paladar e consequente desequilíbrio. Lubrifica as amígdalas, a epiglote, as cordas vocais e boca. É o primeiro SubDosha de kapha que se desequilibra. Em níveis mais subtis, bodhaka kapha é responsável pelo conhecimento, pela capacidade de se fazer compreender e pelo refinamento de sentir os prazeres da vida.
Sintomas de desequilíbrio: obesidade, congestão, diabetes, sensibilidade à comida, enfraquecimento das papilas gustativas e da secreção de saliva pelas glândulas salivares, enfraquece a captação dos sabores (por isso a necessidade de comer mais) e aumenta o sentimento de apego.
Óleos essenciais para restaurar o equilíbrio: cardamomo, cânfora, eucalipto, gengibre, cálamo, ferula, mirra
Formas de aplicar os óleos: através de lavagens da boca, como tempero nas comidas e bebidas

 

5.    Slesaka Kapha

Presente nas articulações, é o líquido que promove protecção e lubrificação nas articulações facilitando os movimentos. Promove força aos ligamentos e suporte a todo o sistema esquelético. Agravação ou excesso leva a articulações soltas, inchadas e fracas.
Sintomas de desequilíbrio: Artrites degenerativas, dores ciáticas, artrites reumatóides e articulações rígidas e barulhentas, articulações soltas, inchaço, movimentos lentos e dolorosos
Óleos para restaurar o equilíbrio: gengibre, eucalipto, açafrão-da-índia, canela, zimbro, cipreste
Formas de aplicar os óleos: compressas quentes, óleos de massagem (misturas usando o óleo de mostarda como base), banhos, saunas

Sub-Doshas de Pitta


As cinco formas de Pitta são responsáveis pelo metabolismo, digestão, enzimas, hormonas, pelo equilíbrio químico do corpo, transformação, produção de fogo, entendimento das ideias e visão.

1.    Pachaka Pitta

 É a forma do fogo que digere      as coisas, uma grande       fornalha presente em nosso        corpo representada pelas       enzimas digestivas, o ácido          clorídrico, a pepsina e o     suco digestivo intestinal. Está   localizado no estômago e             também na saliva na forma de     pictialina. Pachaka Pitta é      responsável pelo agni (fogo)        central do nosso corpo      (jathara agni), governando a       digestão no estômago. É   responsável pelo apetite e            pelos desejos. Transforma a comida em nutrientes e desperdícios. É aqui que   é mais provável Pitta acumular e causar problemas.
Sintomas de desequilíbrio: úlceras, indigestão, vícios, desejos, azia.
Óleos essenciais para restaurar o equilíbrio: aloé vera (na forma fresca à gel ou sumo, não existe óleo essencial), menta, coentros, cominhos, açafrão-da-índia, ferula, funcho.
Formas de aplicação dos óleos: compressas no estômago, como tempero de comida e bebidas.

 

2.    Ranjaka Pitta

É a forma do fogo que promove cor, está localizado no fígado e no esplénio. Ranjaka promove a cor a todos os tecidos do corpo, pele, cabelos, olhos, sangue, bile, fezes, urina etc. É também a inteligência que promove o equilíbrio químico do sangue e a distribuição de nutrientes pela corrente sanguínea e também a destruição das toxinas, sendo relacionado com a síntese de hemoglobina, com as células vermelhas e com a medula óssea.
Sintomas de desequilíbrio: irritabilidade, hostilidade, inflamações da pele, hepatite, anemia, fadiga crónica e colesterol alto, desordens no sangue, hipotensão arterial. Podemos observar o desequilíbrio de Ranjaka Pitta também através da esclerótica nos olhos – quando está amarelada, pode indicar intoxicação no fígado assim como raiva excessiva, emoção conectada a este SubDosha.
Óleos para restaurar o equilíbrio: rosa, madeira de sândalo, camomila, mirtilo, lavanda, erva-cidreira, coentro, amargoseira, milefólio, crisântemo, açafrão-da-índia, açafrão, madressilva.
Formas de aplicação dos óleos: compressas frias, como aditivo nas comidas e bebidas.

 

3.    Sadaka Pitta

Significa aquilo que completa e realiza (sad), está localizado no cérebro, manifestando-se nos neurotransmissores e no coração como parte do plexo cardíaco ou chakra do coração. É responsável por transformar as sensações em emoções e sentimentos, em aceder informações (memória, passado, experiências) e pela auto-estima. Permite a realização do intelecto e da inteligência. Sadhaka Pitta é o fogo que determina o que é verdade ou realidade sendo relacionado a nível inferior com a busca do prazer e a nível superior com a busca da realização espiritual. Esta energia mental, também é responsável pela digestão das impressões e ideias. Dá coragem, clareza nos pensamentos e contentamento.
 Sintomas de desequilíbrio: perda da clareza, confusão e desilusão, perda da capacidade de distinguir realidade e fantasia, perda de memória, indecisão e problemas cardíacos, enfarte do miocárdio, tristeza, esquecimento. A compreensão de Sadhaka Pitta é a compreensão de todo o complexo neuroquímico de nosso corpo.
Óleo essencial para restaurar o equilíbrio: cardamomo, rosa, madeira de sândalo, açafrão, Lotus, jasmim, gardénia,
Formas de aplicar os óleos: inalações, compressas no coração, unção do chakra

4.    Alochaka Pitta

Está presente nos olhos. É a forma do fogo que governa a percepção visual transforma a imagem óptica em sensação óptica. A expressão física de alochaka Pitta é chamada rodopsina (é uma proteína transmembranar que se encontra nos bastonetes, encontrados no epitélio pigmentar da retina dos olhos. É responsável pela visão monocromática no escuro.) no modelo biomédico ocidental, responsável por gerar impulso visual. Promove a percepção e digestão da luz e a percepção clara da mente e da alma. Está relacionado com as emoções através das lágrimas. Permite a utilização da luz pelo corpo estimulando directamente a glândula pinial.
Sintomas de desequilíbrio: conjuntivite, queimação nos olhos, fotofobia, confusão na percepção das coisas aparecem, olhos vermelhos e irritados, raiva.
Óleos essenciais para restaurar o equilíbrio: cânfora, ferula, crisântemo
Formas de aplicar os óleos: compressas frias nas pálpebras (não devem ser aplicados óleos essenciais nos olhos mesmo que diluídos, no entanto florais de agua são apropriados para este uso (rosa, mirtilo))

5.    Bhrajaka Pitta

Está localizado na pele e está relacionado com a nossa capacidade de sentirmos o que os outros sentem (ser objectivo). É responsável pela compleição, o brilho e o lustro da nossa pele, processando os óleos provenientes das glândulas sebáceas para nutrição da mesma. Promove a sensação do toque, da dor e a regulação da temperatura do corpo. Quando está em equilíbrio deixa a pele macia e brilhante
Sintomas de desequilíbrio: eczema, dermatites, acne e perda da sensibilidade táctil, inflamação da pele, furúnculos, cancro da pele, erupções cutâneas.
Óleos essenciais para restaurar o equilíbrio: camomila, menta, lavanda, rosa, milefólio, coentro
Formas de aplicar os óleos: óleos e loções de massagem, compressas frias, banhos frios ou mornos.