sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Os Nadis - As Correntes Subtis do Corpo


Na medicina ayurvédica existe uma compreensão com­plexa, clara e explícita do corpo humano. Sendo esta constituída pelos três doshas (humores biológicos), sete Dhatus (níveis de tecido), quatorze Srotas (canais - dezasseis para as mulheres) e quatorze nadis principais (dutos ou tubos).


A localização e o funcionamento dos órgãos internos era bem compre­endida pelos antigos médicos ayurvédicos. Entretanto, os órgãos eram se­cundários em relação aos sistemas mencionados acima. Segundo os médi­cos, os diversos canais - grosseiros e subtis - eram na verdade os respon­sáveis pela saúde dos próprios órgãos. O corpo era visto como uma unida­de em que todas as partes funcionam em harmonia e estão totalmente relacionadas entre si. Por isso, os métodos de tratamento do Ayurveda têm par base a harmonização dos três doshas e o trabalho para que os sistemas de dhatus, srotas e nadis funcionem correctamente.


O mais subtil dos três sistemas é o dos nadis. Os outros dois – sete níveis de tecidos (dhatus) e quatorze (ou dezasseis) canais (srotas) – são principalmente físicos. Os sete tecidos são produzidos pelas coisas que comemos. O alimento é refinado aos poucos, e passa pelos vários níveis, ate chegar sob a forma dos fluidos reprodutivos. O sistema de ca­nais conduz os alimentos, o ar, o sangue, os dejectos e as substâncias físicas principais. Existem também canais que conduzem a mente e o prana (os quais, porem, não são idênticos aos nadis).


O prana é a base dos doshas e os nadis constituem a rede através da qual eles se movem pelo corpo de forma subtil; na forma grosseira, movimentam-se pelos canais. Os nadis são a base dos outros dois siste­mas, pois é por e1es que circula o prana (os cinco vayus) que activa os outros sistemas. O tecido nervoso (Majja Dhatu) e o canal nervoso (Majjavaha Srota) são alimentados directamente pelos vayus na estrutura dos ossos e da medula óssea. São os nadis que transportam a energia vital pelo corpo. Portanto, é por eles que a terapia deve começar.


No corpo existem 72.000 nadis, 16.000 dos quais são importantes; os principais são em número de duzentos e só um leva a união com Deus. A Krishna Lila é a dança dos nadis para o despertar do Si Mesmo (ou seja, Krishna = Si Mesmo; Gopi = nadi). Este é só um exemplo de muitos que poderiam ser dados.


Os textos de Yoga afirmam que existem 72.000 nadis no corpo. Eles constituem uma rede extremamente fina de canais subtis que se espalha por todo o corpo etérico (corpo de prana, invólucro prânico - pranamaya­kosha - ou corpo energético). Todas as doenças decorrem do congestiona­mento, de bloqueios ou restrições ao funcionamento do sistema de nadis. A maioria das pessoas vê o corpo hu­mano como uma série de camadas progressivamente mais subtis, a seme­lhança de uma cebola; mas a verdade é exactamente o oposto disso. Cada um dos corpos penetra o anterior até o centro do corpo físico, ou seja, todos interpenetram-se. É isso que faz com que o sistema de nadis possa existir nos corpos físico e energético simultaneamente.

Descrição dos Quartorze Nadis

Existem seis nadis do lado direito do corpo, seis do lado esquerdo e dois no eixo central. São, portanto, quatorze no total. Todos esses nadis come­çam no Muladhara chakra, o chakra da raiz localizado na base da coluna.


O corpo funciona segundo uma polaridade basica: feminino/masculi­no, receptividade/actividade, yin/yang, etc. Todas as tradições reconhece­ram a existência dessa polaridade fundamental na vida e no corpo. Os sábios védicos, metaforicamente, usaram as figuras do Sol e da Lua para representar o lado activo e o lado passivo da criação. Além disso, observa­ram que o lado activo tem relação com o guna rajas e que o lado passivo tem relação com tamas. O canal intermediário relaciona-se com sattva ou, se­gundo alguns sábios, com os três gunas em equilíbrio.
Neste último sentido, não há um guna "negativo" - não se pode dizer que tamas seja simplesmente uma qualidade indesejável e que rajas seja só um pouco menos pior, como se diz quanto ao funcionamento da mente. Os três gunas são partes da Natureza e nem poderíamos dormir á noite se não fosse pelo predomínio, nesse momento, da qualidade tamas. Do mesmo modo, se não fosse por rajas não seriamos capazes de nos le­vantar pela manhã! O que é problemático e causa as doenças e a influência de um guna sobre uma actividade que não lhe diz respeito, ou seja, o fun­cionamento "errôneo" dos gunas. Por isso, quando o nadi Ida, que é femi­nino e lunar, é relacionado à qualidade tamas, isso não quer dizer que ele seja pior do que os outros. Do mesmo modo, o fato de o nadi Pingala, masculino e solar, ser rela­cionado a rajas também não quer dizer que ele seja melhor. É só no contexto da mente, que é sátvica por natureza, que esses dois gunas não são apropriados.

O Pingala controla e domina o lado direito do corpo e o Ida controla e domina o lado esquerdo. Em geral, quando o prana se movimenta por um des­ses dois nadis, todos os outros nadis a ele associa­dos também estão activos. A natureza do lado direito do corpo e pitta e a do lado esquerdo e kapha. Os ho­mens, qualquer que seja a sua prakruti (constituição natal), em geral tendem a ter uma energia um pouco mais pitta. As mulheres, independentemente da constituição, tendem a ser mais kapha. Isso deve se ao funcionamento de Pingala e Ida.

Esses dois nadis serpenteiam em volta do nadi central, Sushumna. Cru­zam-no quatro vezes, na altura do segundo, terceiro, quarto e quinto chakras (nas localizações tradicionais dos chakras segundo a Yoga, que não são as mesmas que as ocidentais). o sushumna é o nadi mais importante do corpo, no centro da coluna vertebral. Os seis chakras são ligados a esse nadi, que termina no topo da cabeça, ou seja, no sahasrapadma chakra – que não é um chakra do mesmo modo que os outros seis são chakras.

São esses os três nadis principais, que controlam todos os outros no corpo. o sushumna da a energia básica (prana) ao corpo inteiro e usa os chakras para distribuir essa energia aos vários órgãos e glândulas endócrinas num nível subtil. É auxiliado nesse trabalho pelos nadis solar e lunar, respectivamente Pingala e Ida. Todos os métodos yogues, como o pranayama e os ásanas, trabalham com esses três nadis. A Kundalini Yoga trabalha primeiro com os nadis da direita e da esquerda e depois com o nadi cen­tral, mediante o desenvolvimento do udana vayu – o vento ascendente –, que deve resultar na ativação da Prana Shakti, ou energia prânica primordial. O equilíbrio de ojas e tejas no corpo e na mente cola­bora para isso. É a união de tejas e ojas que ativa a energia da Kundalini (Prana Shakti). Ela sobe então até ao topo da cabeça. Existe um nadi que cumpre especificamente essa função, o Brahmi nadi.


Os Nadis Centrais

1.Sushumna – vai da base da coluna até o topo da cabeça. Facilita o movi­mento ascendente do prana puro que nutre o corpo inteiro.
2.Alambusha – vai do começo do Sushumna até o ânus. E a via de saída pela qual o prana impuro e eliminado do corpo.


Os Nadis da Direita

3. Kuhu - vai da base da coluna até o segundo chakra e depois dirige-se ate a extremidade do pénis ou da vagina. Leva o prana aos sistemas reprodutivo e urinário.
4. Varuna - vai da base da coluna até o quarto chakra, e divide-se para espalhar o prana pelo corpo todo. Diz-se que existe em toda parte.
5. Yashasvati - vai da base da coluna até o terceiro chakra, na altura do umbigo, e dirige para o braço direito e a perna direita. Leva o prana aos membros e permite a movimentação destes.
6. Pusha - vai da base da coluna até o sexto chakra, o "terceiro olho", e dirige-se ao olho direito, alimentando-o de prana.
7. Payasvini - vai da base da coluna até o sexto chakra, o "terceiro olho", e dirige-se ao ouvido direito, alimentando-o de prana.
8.Pingala - vai da base da coluna ate o sexto chakra, o "terceiro olho", e dirige-se à narina direita, alimentando-a de prana.


Os Nadis da Esquerda

9.Visvodhara - vai da base da coluna até o terceiro chakra, na altura do umbigo, de onde se dirige à região do estômago, alimentando-a de prana.
10.Hastijihva - vai da base da coluna até o terceiro chakra, na altura do umbigo, de onde se dirige ao braço esquerdo e a perna esquerda. Leva o prana aos membros e permite a movimentação destes.
11.Saraswati - vai da base da coluna até o quinto chakra, na garganta, de onde se dirige à língua e à boca, alimentando-as de prana.
12.Gandhari - vai da base da coluna até o sexto chakra, o "terceiro olho", de onde se dirige ao olho esquerdo, alimentando-o de prana.
13.Shankhini - vai da base da coluna até o sexto chakra, o "terceiro olho", de onde se dirige ao ouvido esquerdo, alimentando-o de prana.
14.Ida - Vai da base da coluna até o sexto chakra, o "terceiro olho", e dirige-se a narina direita, alimentando-a de prana.

Ao examinarmos os nadis, podemos verificar que oito deles existem aos pares. O Ida e o Pingala conduzem o prana para dentro e para fora das passagens nasais e controlam o sentido do olfacto. o Shankhini e o Payasvini contro­lam os ouvidos e o sentido da audição. o Gandhari e o Pusha controlam os olhos e o sentido da visão. o Hastijihva e o Yashasvati controlam a actividade motora dos membros e, portanto, o movimento. Os outros seis nadis controlam os outros sentidos e actividades motoras.

Saraswati controla o paladar e a língua; Visvodhara controla o sistema di­gestivo e a capacidade de digerir; Kuhu controla os sistemas reprodutores e urinário; Varuna controla a respiração, a circulação, a pele e o sentido do tacto; Alambusha controla a actividade de eliminação.]á Sushumna controla o sistema nervoso e o corpo inteiro; contém em si todos os outros nadis, pois é o pilar axial do corpo subtil (os corpos etérico, astral e mental do sistema ocidental).

Como Tratar os Nadis

Na massagem ayurvédica, o uso principal que se dá aos nadis e o de paci­ficar a actividade motora e os cinco sentidos. Essas duas são contro­ladas pelo vata dosha (vayu). O Ayurveda confirma que vata e responsável pela maioria das doenças. Tratando o sistema de nadis, empregamos um meio directo para a pacificação de vata. Esta é uma das funções mais importantes da massagem na terapia ayurvédica.


Essa forma de massagem chama-se Abhyanga e insere-se habitualmen­te na categoria de massagem geral. Significa ainda a massagem enquanto método terapêutico preven­tivo, ou seja, um método de equilíbrio ou pacificação dos três doshas. Pelo uso consciente dos nadis na massagem, pode se chegar a um método de pacificação de vata (o que inclui a pacificação dos sentidos e da actividade motora) e de prevenção de doenças.

A outra forma de terapia de massagem no Ayurveda chama-se Snehana. o Snehana e, na verdade, uma parte do Pancha Karma e, diz respeito principalmente à aplicação de óleo, não à mas­sagem em si. Embora seja possivel trabalhar os nadis no Snehana, isso não é conveniente. O Snehana é urn processo integral. Assim, o tratamento dos nadis insere-se na Abhyanga.


Tratamentos

1. Sushumna - Aplicar óleo quente ao topo da cabeça com movimentos circulares leves no sentido horário (óleo de Brahmi).
2. Alambusha - Não é correcto tratar esse nadi em outras pessoas. Para o auto tratamento, lavá-lo diariamente e aplicar óleo de gergelim.
3. Kuhu - não é correcto tratar este nadi em outras pessoas. Para o auto tratamento, lave-o diariamente e aplique óleo de gergelim.
4. Varuna - Todas as técnicas de massagem contribuem para o tratamen­to deste nadi. A massagem com óleo é a mais eficaz para o tratamento da pele enquanto órgão do sentido do tacto. A quantidade e o tipo de óleo dependem da constituição (prakruti).
5. Yashasvati - Aplicar óleo quente nas palmas das mãos e nas solas dos pés diariamente. Use o óleo de acordo com a prakruti.
6. Pusha - Humedecer um pouco algodão em triphala ghee, ou numa decocção de triphala, ou em cha de camomila, e coloque a poco de algodão mo­lhado - a pingar um pouco - sobre os olhos enquanto faz o resto da massagem. Ou então, aplique urn pouco de óleo e uma leve pressão aos pontos situados acima dos olhos - nas sobrancelhas.
7. Payasvini - Usar um conta-gotas para pingar duas gotas de óleo no ouvido (óleo de Brahmi ou de gergelim). Ou então, molhar o dedo no óleo e aplicar com cuidado dentro do ouvido. Massajar a orelha toda também é bom.
8. Pingala - Use um conta-gotas para pingar duas gotas de óleo dentro na narina (óleo de Brahmi ou de gergelim). Ou então, aplique um pouco de óleo e fazer uma leve pressão ao lado da narina.
9. Visvodhara - Fazer uma massagem de óleo quente na região do abdómen. Usar o óleo de acordo com a prakruti da pessoa.
10. 10. Hastijihva – Aplicar o óleo quente nas palmas das mãos e nas solas dos pés diariamente. Usar o óleo de acordo com a prakruti da pessoa.
11. Saraswati - Aplicar um pouco de óleo na região da garganta e da mandíbula. Fazer uma massagem leve nos lados da garganta e nos músculos do maxilar serve para tratar este nadi, bem como a massagem na parte de trás do pescoço.
12. No auto tratamento, convém limpar a lingua todos os dias.
13. Gandhari - o mesmo que Pusha.
14. Shankhini - o mesmo que Payasvini.
15. Ida - o mesmo que Pingala.

Um dos métodos mais importantes de tratamento dos nadis é a rotina diária de manutenção. Essa rotina diz respeito principalmente a higiene e ao correcto uso dos sentidos. A sobrecarga dos sentidos é uma das princi­pais causas de doenças.


Os óleos naturais, extraídos a frio, contêm quantidades elevadíssimas de vitaminas, minerais e nutrientes. A pele, é um órgão de assimilação e está relacionada ao sentido do tacto. O óleo nutre o corpo inteiro por meio do sistema de nadis regido por Varuna (o Varuna nadi é um sistema com­plexo de canais minúsculos que se espalham pelo corpo inteiro).

Como as narinas são os pontos finais de Ida e Pingala (e estes são os auxílios que apoiam todos os outros nadis), elas são o ponto mais importante do corpo para o tratamento. A limpeza e a nutrição diária das vias nasais é muito importante nos regimes de saúde da Yoga e do Ayurveda. Depois da limpeza que é feita com a cabeça inclinada para trás e para os lados, para lavar as narinas com água morna salgada, as vias nasais podem ser nutridas com óleo. Pingar as gotas directamente no nariz. Quando esse processo é feito diariamente, o cérebro fica nutrido e o vata dosha permanece equilibrado. Um conta-gotas e um pequeno frasco de óleo de gergelim são os instrumentos necessários para conter o humor vata - pingar três ou quatro gotas em cada narina antes e depois de viajar.


As outras formas de nutrição são o silêncio, o contacto directo com a natureza, o amor, alimentos saudáveis ingeridos em quantidades moderadas e a meditação.

Trabalho de:

Cláudia Lizardo

Sem comentários:

Enviar um comentário